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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Não se deixem morrer

Às minhas irmãs
Eu peço que não morram
E não se deixem morrer

Às minhas irmãs negras
Eu peço que não matem
Suas tranças, suas crenças
Seu Black Power
Peço que não se deixem
Morrer quando pedirem que se calem

Às minhas irmãs negras
Peço que não aceitem entrar no elevador de serviço
Peço que não aceitem como um favor
suas bolsas sobrevivência e sim como obrigação
dos brancos que lhe devem a vida
Perdida nos serviços braçais e nos postes de tortura
E eu lutarei com vocês

Às minhas irmãs trans
Eu imploro que não morram
Como tantas outras
Antes de conhecer a velhice
Antes de ter seus direitos concedidos
As minhas irmãs trans eu imploro
Que não se deixem morrer
Que não se apaguem e se matem
Por um deus inventado que dizem te amar
Mas não te aceitar
Às minhas irmãs eu imploro
Não se deixem morrer cortando
seus órgãos em casa

Que não se deixem morrer
Quando negarem seus nomes
Que não se deixem morrer quando te acharem
Menos humanas ou menos mulheres
E eu com certeza lutarei ao lado de vocês

Às irmãs oprimidas
Violentadas
Estupradas
Que ainda sobreviveram
Eu imploro que não se deixem morrer
Silenciadas por parceiros que tentam podar suas asas
Que não se deixem morrer pelos patrões e padrões
Que te moldam
Que não se deixem morrer cortando seus corpos
Cortando seus desejos
Cortando seus sonhos

À todas as irmãs eu somente imploro

Não sejam mortas e não se deixem morrer

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


REFLETIR

Duro, frio, gelado
Assustadoramente mente
Transparente mente
Mente Vidrou

Morno, quente, meu
Calado, assustadora.mente meu
Sou

Vi um lago transparente
Um alguém que nada sente
Vi um vidro indiferente
Com alguém que nada sente
Um alguém que não sou

Vi dentro do lago
Alguém um tanto bagunçado
Alguém um tanto recuado
Alguém um tanto nada que sou




Vi atrás do vidro
Uma pessoa esquisita
Segurando uma caixa na mão
Vi na outra mão dessa pessoa
Esquisita uma adaga, uma foice
E um canhão.

Vi no lago transparente
Que uma força muito quente
Estourou
Vi que aquela força
Poderia ultrapassar
Alguns limites do que um dia
Era lago e o que sou

Que agonia!
E que risco eu corria.
O bombardeio aumentava
Meu corpo respondia
A cada passo que eu dava
Enjôo, raiva e euforia




De tanto correr quase bati
No vidro diante de mim
Mas o homem que mora do outro lado
Com a caixa na mão hesitou
E me olhou
Durante quase uma hora ficou a me olhar
O olhar dele foi me dando raiva
A indiferença dele ali parado
A prepotência e a calmaria
 

Eu era um acumulo
De restos e destroços
Eu estava despedaçado
E o desgraçado do outro lado
Somente a me olhar.
Não se importou com meu sangue
Nem com as minhas feridas
Mas que maldito homicida
Apontou uma arma pra mim
Não pensou, não hesitou
Dessa vez só me olhou
E apontou a arma pra mim
Primeiro impacto, e então estilhaços
E o homem sumiu
Eu estava vivo
Intacto
E o homem sumiu
Aproximei-me do vidro
Que já não era transparente
Tinha um brilho metálico
E o mostro que me apontou a arma
Sem pensar nem se compadecer
Estava agora sentado
Destruído do outro lado
E com a arma na mão

A pessoa esquisita
que morava lá no lago
Sentou-se do outro lado
Banhou seu corpo despedaçado
E se desculpou

Duro, frio, gelado
Assustadoramente mente
Transparente mente
Mente Vidrei

Morno, quente, meu
Calado, assustadora.mente meu
Sou

Vi num lago transparente

Vi num vidro reluzente o que sou





quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sem rumo
Nem sumo
Nem fico
Nem vou
Nem vôo
Nem sou
Nem sôo
Nem dor

Meio perdida de mim
Meio encontrando um fim
Me definhando e me tecendo
Construindo e desfazendo
To meio assim
Meio assada
Meio tudo e
Meio nada

To falando sem sentido
Nem perdendo e nem sentindo
Comendo e cuspindo
Chorando e sorrindo
Descendo e subindo
De pernas cansadas
To meio assim
Meio vazia de tudo

Meio cheia de nada.








sexta-feira, 15 de agosto de 2014





















E EU PASSARINHA...


Ele disse que meus olhos eram lindos
E então me colocou em um belo quarto
A meia luz para melhor me observar

Ele admirou meu canto
E me enjaulou lá no alto de uma linda gaiola
Para que meu assovio ecoasse em sua casa

Era linda a maneira como eu comia
E ele fez questão de escolher meus alimentos
Que ele julgava mais saudável.
Ele me servia
Para que eu não pudesse me esforçar
Meu bico que se alimentou
De grãos moídos  não precisou mais se fortalecer
E foi se moendo também.

Ele elogiou minhas penas
E a maneira como eu gostava de voar
E então cortou as pontas das minhas asas
Para que eu voasse raso e pudesse voltar

O quarto era lindo
A gaiola também
Mas o céu azul me chamava
O sol radiante brilhava
E até as gotas de chuva
eu queria sentir

A porta da gaiola estava aberta

Meu bico moído não servia mais
E me impedia de me alimentar
Meu canto se desacostumou a ecoar
Meus olhos não conseguiam enxergar
na claridade ofuscante das manhãs
E minhas asas já não me levavam tão longe
quanto eu queria

E fiquei por lá,
Eles passarão E eu passarinha
Com medo de voar.



quinta-feira, 31 de julho de 2014


Mais uma:
7 anos
Estuprada
Assassinada

Ela não faz parte
Do seu fetiche
De roupas colegiais

Ela não faz parte
Do seu fetiche
Do “papai chegou”

Ela não faz parte
Do seu fetiche
De garota inocente

Ela não faz parte
Da sua piada
Da sua cultura de estupro
Do seu choro

Ela não pediu
Como nenhuma outra
Ela não tinha que agradecer
Como nenhuma outra
Ela não mereceu
Como nenhuma outra

Enquanto você  Está sentada Fazendo piada Essa garota foi estuprada e Assassinada

E a culpa é de quem? Quem é que banca a cultura do estupro? Quem faz piada da luta? Quem é que consegue achar isso normal? Quem é que tenta encontrar uma justificativa?
Quem? Quem está mais preocupado com meus seios de fora, do que com a vida? Quem foi que acordou que não posso ser dona do meu próprio corpo? Quem foi que me disse que eu não posso andar na rua? Não posso estar nua? Não posso ser criança? Não posso ser mulher? Não posso viver?
Quem tirou de mim minha própria vida antes mesmo de eu nascer?



terça-feira, 29 de julho de 2014



Poliamaremos  ♥ ♡ ♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥ ♡♥
♥ ♡

Quem escolheu   

Você com meu eu
Foi o tal de destino
♥ ♡
- Vamos casar
- Onde é que eu assino?
  

♥ ♡
Não tem onde não, moço
É sem burocracia
Aqui é amor
Que nem na magia
Meia-noite te amo
Até o meio-dia.



sexta-feira, 25 de julho de 2014



VADIA!

Pelo estupro
Pela morte
Pelo aborto
A culpa foi minha

Pelo sopro
Pelo abuso
Pelo roubo
A culpa foi minha

A culpa foi minha
Pelo meu Black Power
Cheio, livre, empoderado.

A culpa foi minha
Pelo meu tamanho
“Alta demais”
“Baixa demais”
“Magra”, “gorda”,
“pé estranho”.

A culpa foi minha
Porque ao contrário do que você pensa
Minha genitália não define meu gênero
Nem meu caráter, nem minhas crenças.

Postei minha foto
-VADIA! – Eles gritaram.
Postaram meus vídeos
-VADIA! – Me acusaram.
Sai pelas ruas
-VADIA! – Eles chamaram.

E a culpa foi minha.